quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mostra " Vestígios de Brasilidade "




Vestígios de Brasilidade é o nome da exposicão que está aberta para visitação no Santander Cultural em Recife até 31 de julho. 40 artistas brasileiros entre eles, Ana Elisa Egreja, Ana Miguel e Cadu, apresentam suas obras relacionadas a uma suposta identidade nacional. Leia abaixo o texto de Marcelo Campos;







"Apresentamos a exposição Vestígios de brasilidade como um convite vertiginoso, um rodopio por situações poéticas que nos relembrem um Brasil em pedaços, em marcas visíveis e latentes, misturadas, coletivas. Busca-se, então, uma narrativa alegórica a partir de sete núcleos: quarta-feira de cinzas, fetichismo, vento, preguiça, sortilégios, geometria e casa. Tais vestígios despontaram com o passar do tempo, deixando a arte brasileira com diversos fios de conexão. Um deles, a brasilidade. Como convite a um baile, a uma dança, abriremos a exposição com quarta-feira de cinzas: os vestígios do carnaval, confetes, serpentinas, fantasias. Nos vestígios da folia, apresentam-se surdos, instrumentos musicais do carnaval carioca.






Os trabalhos ganham o caráter catártico e melancólico. Assume-se esta festa popular, “turistificada”. Também alegórico é o corpo negro na performance, deixando imprimir-se de preconceitos como camadas sutis e subvertendo-os pelo segredo de dominar a dança, o samba. Dos vestígios alegóricos, encaminhamo-nos, inevitavelmente, para o ornamental, a alegria na pletora de cores. A folia ganha sentidos de trabalho e fábula nas formigas que carregam confetes.

No mergulho orgiástico, surge o anti-herói. O fetichismo cria sensações sincréticas em símbolos, ritos e no corpo dos sujeitos. Evidenciam-se marcas mediúnicas nos transes católicos. Colocamos em jogo a subversão, hasteando bandeiras ao submundo, juntando Deus e o Diabo, criticando a repressão policial, com o anti-herói fugindo de corpo fechado. Erguem-se herdeiros dessa estética do subdesenvolvimento, agora, com a possibilidade de ganhar as ruas nas intervenções urbanas. A brasilidade, tão cantada na exuberância portentosa da natureza, hoje é apreendida como contrabando.

Para varrer os males, vamos chamar o vento. Invoquemos Iansã, dona dos ventos e das tempestades. O vento. A brisa, elemento mecânico e metafísico que faz vibrar as folhas, aciona o balanço da infância e produz os redemoinhos espontâneos, evocando os mitos nacionais da literatura.






Da preguiça, Macunaíma ganha a cena, nascendo nos livros costurados, no sono e na escultura malemolente. Uma preguiça sem caráter, invertendo a lógica da moral, convidando-nos a fabulações.

Do sonho, vamos à crença pelo encantamento, os pedidos de boa ventura: a magia das sete ervas, as flores no mar para Iemanjá, prática popular desde fins do século XIX, as procissões. O encantamento aparece na canção de Iemanjá, de domínio público. Sortilégios.

Por fim, recodificaremos a geometria. A partir de uma dupla herança, entre o construtivo e o popular, constroem-se ecos do modernismo aos trabalhos de hoje, como paradigma para o ilusionismo e o construtivismo contemporâneos.





As construções geométricas vão se tornando subjetivas, o casario flutua, como religiosidade, como ex-voto aos deuses do lar. Adentraremos a casa com a herança colonial e popular. Da presença intensa da colonização, o móvel austero cria raízes para mostrar a força de um espólio. Do sertão, a casa com varanda conquistada. Dessa possibilidade construtiva, agregamos sentimentos e valores afetivos erigindo totens, monumentos muitas vezes tão banais quanto as caixas de feira que, não por acaso, são construídas com pregos de ouro, assumindo, de vez, que a adversidade, uma terceira margem, é uma das nossas nobrezas."

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